quarta-feira, maio 13, 2009

May 13, 1985 Must Not Be Forgotten

Attention, MOVE: This is America!






--At the 24th anniversary of the May 13 massacre, MOVE organizes for 2009 Parole Hearings

By Hans Bennett

“Attention, MOVE: This Is America! You must abide by the laws of the United States!” Philadelphia Police Commissioner Sambor declared through a loudspeaker, minutes before the May 13, 1985 police assault on the revolutionary MOVE organization’s home. This assault killed 5 children and 6 adults, including MOVE founder John Africa. That morning police shot over 10,000 rounds of bullets into their West Philadelphia home, and detonated explosives on the front, and both sides of their house. Following an afternoon standstill, a State Police helicopter dropped a C-4 bomb, illegally supplied by the FBI, on MOVE’s roof. The bomb started a fire that eventually destroyed 60 homes: the entire block of a middle-class black neighborhood. 13-year old Birdie Africa and 30-year old Ramona Africa were the only survivors, after they dodged police gunfire and escaped from the fire with permanent burn scars.

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terça-feira, abril 14, 2009

(inter)dependências














regresso ao local do crime, após dois anos de quase afastamento apenas interrompido pelo amigo pacheco.
as sigulariades da criação, tal como o nascimento do nosso universo, propagam-se em multiplas direcções, no entanto não devem perder de vista aquilo que na base as une: o ser humano.
dessa dimensão pode surgir a besta e o bestial...
recomeço!

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

tomai lá do pacheco*


Aparentemente a Universidade de Coimbra vai dedicar a sua X Semana Cultural a Luiz Pacheco, o evento vai incluir uma exposição de diversas publicações do autor a realizar na Biblioteca Geral, assim como alguns trabalhos de criação artística, ao jeito de performance, a serem apresentados pelas ruas de Coimbra...
Se não fosse sério dava vontade de rir, morto o artista já o querem meter à força no cánone!
Como diria o Pacheco metam o cânon num sitio que eu cá sei...

para ler:
http://www.triplov.com/luiz_pacheco/


* pedi emprestada a expressão do O'Neil

quinta-feira, maio 24, 2007

Centro Social Okupado Autogestionado - Coimbra


Edifícios esquecidos,
edifícios abandonados,
edifícios que morrem lentamente.
Pessoas que correm
alienadas em frente da TV,
afogados nas suas casas.
Humanos-robot
Não-humanos!
Edifícios vivos cheios de sol e histórias antigas,
Edifícios que esperam silenciosos…
Pessoas que estão fartas da miséria.
Pessoas que querem viver diferente.

No dia 29 de Abril foi okupado em Coimbra um espaço abandonado outrora pertencente aos antigos hospitais da universidade. O objectivo é a criação de um espaço diferente, de debate e convivência num ambiente anti-capitalista e anti-autoritário.

Tendo como base a Liberdade, queremos a criação de relações mais humanas, mais humanizadas. Em oposição à vivência fria e estéril que o capitalismo e o estado nos tentam impor, queremos a livre cooperação entre indivíduos, queremos construir um lugar que seja uma ilha no meio do cinzentismo desta cidade, que seja um lugar de conhecimento fora do shopping académico. Um espaço popular autogestionado, organizado colectiva e horizontalmente através de assembleias, sem comités nem delegados, sem líderes nem liderados.

Existem milhares de edifícios desabitados, a ruir, à mercê da especulação imobiliária. Edifícios trancados e emparedados, só à espera da tua imaginação. O facto de escolhermos um edifício abandonado é para nós um imperativo, pois nunca poderíamos existir num espaço onde tivéssemos de pagar. Queremos uma existência sem a mediação do dinheiro e do lucro, um espaço de resistência e liberdade.

Não queremos que seja um espaço baseado nas relações sociais que nos são impostas, pelo contrário, esta é uma tentativa de reaproveitamento de um espaço para viver, para gritar, para amar, para destruir e esmagar tudo o que nos oprime.


JANTAR VEGANO ÁS QUARTAS, 20h00 (contribuição livre)

ASSEMBLEIA TODAS AS SEGUNDAS, 22h00

sexta-feira, abril 27, 2007

LISBOA 25 ABRIL 2007: manifestação antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo



Comunicado sobre a manifestação antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo

Com o intuito de protestar contra a crescente visibilidade da extrema-direita e a sua componente racista e xenófoba, contra a cada vez maior exploração capitalista, contra a precariedade social imposta pelo capitalismo, contra o crescente totalitarismo democrático, pela liberdade, solidariedade e dignidade humana, por um mundo sem fronteiras uma plataforma de grupos e indivíduos de várias tendências anti autoritárias, anarquistas, anti capitalistas e antifascistas convocou para o dia 25 de Abril pelas 18:00H na praça da figueira uma manifestação anti autoritária.

A manifestação reuniu cerca de 400 pessoas que percorreram o Rossio, a Rua do Carmo e a Rua Garrett até ao Largo de Camões num ambiente contestatário mas festivo e sem incidentes. Muitos transeuntes aplaudiram e aderiram à manifestação. Após um breve período em que a manifestação permaneceu no largo Camões esta continuou espontaneamente pela Rua Garrett em direcção ao Rossio.

A meio da Rua do Carmo, duas hordas de elementos do corpo de intervenção da PSP encurralaram os manifestantes na rua fechando as saídas e sem qualquer ordem ou aviso de dispersão começaram a agredir brutal e indiscriminadamente manifestantes, transeuntes e até mesmo turistas.Com isto a polícia não tentou dispersar ninguém, mas por outro lado quis bater, espancar e atacar os manifestantes. Pessoas que caíram no chão indefesas foram ainda agredidas por vários polícias à bastonada e ao pontapé. Aqueles que tentaram fugir foram perseguidas por toda a baixa e muitos transeuntes e lojistas somaram-se aos manifestantes no fundo da Rua do Carmo em protesto contra a brutalidade policial. As únicas agressões à polícia foram em legítima defesa, que é um direito ao qual não renunciamos.

Foram detidas doze pessoas de forma bastante violenta e é impossível contabilizar todos os feridos entre manifestantes e pessoas alheias ao protesto. Foi mobilizado um aparato policial desmedido (dezenas de carrinhas do corpo de intervenção da PSP com certamente mais de uma centena de elementos) que impôs o terror na baixa de Lisboa por várias horas
Um grupo de indivíduos que se queria juntar à manifestação e que tinha ficado para trás foi cercado e escoltado até ao cais do sodré (possivelmente pela sua cor de pele).

Os detidos foram levados para a esquadra da 1ª divisão da PSP na Rua Gomes Freire onde foi negada qualquer informação aos seus amigos e durante muito tempo foi impedida a entrada aos advogados. Houve uma tentativa de levar os detidos a constituírem-se arguidos sem a presença dos advogados o que é ilegal. Em solidariedade com os detidos cerca de 50 pessoas concentraram-se em frente à esquadra aguardando a sua transferência para os calabouços do comando da PSP de Lisboa. Mesmo em frente à esquadra a polícia continuou com o abuso de poder e expulsou as pessoas aos empurrões impedindo que estas pudessem continuar a demonstrar a sua solidariedade

O que tem vindo a ser noticiado nos variados órgãos de comunicação social está repleto de incoerências e desvios daquilo que realmente aconteceu na baixa de Lisboa. Nomeadamente, a confusão com outras manifestações, a aceitação da versão policial dos acontecimentos e a necessidade de caracterizar como ilegal uma característica natural das pessoas que é o ajuntamento e a manifestação, que a democracia diz defender. Num período em que foram muitos os ajuntamentos, manifestações, acções e encontros este era também um protesto de repúdio aos tempos que se vivem e aos ataques constantes do poder às pessoas.

Caricatamente é no dia 25 de Abril que a polícia defende cartazes de partidos fascistas e ataca manifestações antifascistas.

Num momento em que já se sabia que os cravos estão murchos todos estes acontecimentos servem para o reconfirmar.

Plataforma antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo

»» mais informação:
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=124179&cidade=1
http://www.youtube.com/watch?v=gJXuWvsUdr0

quarta-feira, março 21, 2007

A poesia está na rua

Poema


Mário Cesariny
(1923-2006)
Poema
  
Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos

La Chanson du Mal-Aimé



Guillaume Apollinaire

(1898 - 1918)


La Chanson du Mal-Aimé

A Paul Léautaud


Et je chantais cette romance

En 1903 sans savoir

Que mon amour à la semblance

Du beau Phénix s'il meurt un soir

Le matin voit sa renaissance


Un soir de demi-brume à Londres

Un voyou qui ressemblait à

Mon amour vint à ma rencontre

Et le regard qu'il me jeta

Me fit baisser les yeux de honte


Je suivis ce mauvais garçon

Qui sifflotait mains dans les poches

Nous semblions entre les maisons

Onde ouverte de la Mer Rouge

Lui les Hébreux moi Pharaon


Oue tombent ces vagues de briques

Si tu ne fus pas bien aimée

Je suis le souverain d'Égypte

Sa sœur-épouse son armée

Si tu n'es pas l'amour unique


Au tournant d'une rue brûlant

De tous les feux de ses façades

Plaies du brouillard sanguinolent

Où se lamentaient les façades

Une femme lui ressemblant


C'était son regard d'inhumaine

La cicatrice à son cou nu

Sortit saoule d'une taverne

Au moment où je reconnus

La fausseté de l'amour même


Lorsqu'il fut de retour enfin

Dans sa patrie le sage Ulysse

Son vieux chien de lui se souvint

Près d'un tapis de haute lisse

Sa femme attendait qu'il revînt


L'époux royal de Sacontale

Las de vaincre se réjouit

Quand il la retrouva plus pâle

D'attente et d'amour yeux pâlis

Caressant sa gazelle mâle


J'ai pensé à ces rois heureux

Lorsque le faux amour et celle

Dont je suis encore amoureux

Heurtant leurs ombres infidèles

Me rendirent si malheureux


Regrets sur quoi l'enfer se fonde

Qu'un ciel d'oubli s'ouvre à mes vœux

Pour son baiser les rois du monde

Seraient morts les pauvres fameux

Pour elle eussent vendu leur ombre


J'ai hiverné dans mon passé

Revienne le soleil de Pâques

Pour chauffer un cœur plus glacé

Que les quarante de Sébaste

Moins que ma vie martyrisés


Mon beau navire ô ma mémoire

Avons-nous assez navigué

Dans une onde mauvaise à boire

Avons-nous assez divagué

De la belle aube au triste soir


Adieu faux amour confondu

Avec la femme qui s'éloigne

Avec celle que j'ai perdue

L'année dernière en Allemagne

Et que je ne reverrai plus


Voie lactée ô sœur lumineuse

Des blancs ruisseaux de Chanaan

Et des corps blancs des amoureuses

Nageurs morts suivrons-nous d'ahan

Ton cours vers d'autres nébuleuses


Je me souviens d'une autre année

C'était l'aube d'un jour d'avril

J'ai chanté ma joie bien-aimée

Chanté l'amour à voix virile

Au moment d'amour de l'année


quinta-feira, março 08, 2007

A tragédia da emancipação da mulher

Excertos do ensaio “A tragédia da emancipação da mulher”, editado originalmente como parte do livro “Anarquismo e outros ensaios” de Emma Goldman

Começo com uma admissão: independentemente de todas as teorias econômicas e políticas, que tratam das diferenças fundamentais entre os vários grupos no interior da raça humana, independentemente das distinções de classe e de raça, independentemente de todas as linhas divisórias artificiais entre os direitos da mulher e do homem, sustento que há um ponto onde estas diferenças podem encontrar-se e crescer em um todo perfeito.

Isto não quer dizer que proponho um tratado de paz. O antagonismo social geral que se apoderou de toda a nossa vida social hoje,fez surgir através da força de interesses opostos e contraditórios, cairá em pedaços quando a reorganização da nossa vida social, baseada em princípios de justiça econômica, tiverem se tornado uma realidade.

Paz ou harmonia entre os sexos e os indivíduos não depende necessariamente em uma equalização de seres humanos, nem apela pela eliminação de traços e peculiaridades individuais. O problema que nos confronta hoje e o qual o futuro mais próximo deverá resolver, é o de como sermos nós mesmos e, ainda assim, em unicidade com os outros, sentir profundamente com todos os seres humanos e ainda manter nossas próprias qualidades características. Esta parece-me ser a base sobre a qual a massa e o indivíduo, o verdadeiro democrata e a verdadeira individualidade, homem e mulher, podem encontrar-se sem antagonismo e oposição. O lema não deveria ser: "perdoem uns aos outros", mas, antes, "compreendam uns aos outros". A frase de Madame de Stäel, freqüentemente citada, "compreender tudo significa perdoar tudo", nunca me apeteceu particularmente, tem o odor do confessionário. Perdoar o seu semelhante implica na idéia de uma superioridade farisaica. Compreender o seu semelhante já é o suficiente. Esta admissão representa em parte o aspecto fundamental da minha concepção da emancipação da mulher e do seu efeito sobre todo o sexo.

A emancipação deveria tornar possível para a mulher ser humana em seu sentido mais verdadeiro. Tudo dentro dela que anseia por afirmação e atividade deveria atingir sua expressão mais completa; todas as barreiras artificiais deveriam ser quebradas e o caminho para uma maior liberdade deveria ser limpo de todo e qualquer traço de séculos de submissão e escravidão.

Este era o objetivo original do movimento pela emancipação da mulher. Mas os resultados alcançados até aqui isolaram a mulher e roubaram-na da fontes daquela felicidade que é tão essencial para ela. A emancipação meramente externa tornou a mulher moderna um ser artificial, que nos faz lembrar dos produtos da arboricultura francesa com suas árvores e arbustos exóticos: pirâmides, rodas e coroas; qualquer forma exceto aquela que seria alcançada pela expressão das suas qualidades interiores. Plantas tão artificialmente cultivadas do sexo feminino encontram em grande número, especialmente na chamada esfera intelectual da nossa vida.

Liberdade e igualdade para a mulher! Que esperanças e aspirações estas palavras despertaram quando primeiro proferidas por algumas das almas mais nobres e corajosas daqueles dias. O sol em toda a sua luz e glória deveria levantar-se sobre um mundo novo; neste mundo a mulher deveria ser livre para orientar o seu próprio destino - um objetivo seguramente merecedor de grande entusiasmo, coragem, perseverança e esforço incessante do tremendo exército de homens e mulheres pioneiros, que arriscaram tudo contra um mundo de preconceito e ignorância.

Minhas esperanças também se movem em direção àquele objetivo, mas sustento que a emancipação da mulher, tal como é interpretada e aplicada de modo prático hoje, fracassou em atingir este grande objetivo. Agora, a mulher está confrontada com a necessidade de emancipar-se da emancipação, se ela realmente deseja ser livre. Isto pode parecer um paradoxo, mas é, não obstante, somente muito verdadeiro.

O que ela obteve da emancipação? Sufrágio igual em alguns estados. Acaso isso purificou a nossa vida política, como muitos bem-intencionados advogados desta causa previam? Claro que não. Notemos, de passagem, que já é hora para que pessoas de bom senso parem de falar de corrupção na política em um tom de colégio interno. A corrupção na política nada tem a ver com a moral, ou com a frouxidão moral, de diversas personalidades políticas. Sua causa é integralmente material. A política é o reflexo do mundo industrial e dos negócios, cujos lemas são: "tomar é mais abençoado que dar", "compre barato e venda caro", "uma mão suja lava a outra". Não há qualquer esperança de que a mulher, com seu direito de voto vá nunca purificar a política.

A emancipação trouxe a igualdade econômica da mulher com o homem, isto é, ela pode escolher a sua própria profissão ou empreendimento, mas como seu treinamento físico passado e presente não a aparelhou com a força necessária para competir com o homem, ela é freqüentemente obrigado a exaurir toda a sua energia, gastar a sua vitalidade e forçar cada nervo de modo a alcançar o valor de mercado. Muito poucas já o conseguiram, pois é um fato que as professoras, médicas, advogadas, arquitetas e engenheiras não são confrontadas com a mesma confiança que os seus colegas do sexo masculino, nem recebem remuneração igual. E aquelas que alcançam esta qualidade sedutora o conseguem, em geral, às custas do seu bem-estar físico e mental. Quanto à grande massa de mulheres e meninas trabalhadoras, quanta independência pode ser conquistada se a estreiteza e a falta de liberdade do lar é trocada pela estreiteza da fábrica, da oficina, da loja ou do escritório? A isto soma-se que a carga de cuidar de um "lar doce lar" - frio, sombrio, desarrumado, pouco convidativo - depois de um dia de trabalho duro. Gloriosa independência! Não admira que centenas de meninas estão desejosas de aceitar a primeira oferta de casamento, cansadas da sua "independência" atrás de um balcão, à máquina de costura ou à máquina de escrever. Estão tão prontas a casar quanto as moças de classe média, que anseiam libertar-se do jugo da supremacia paterna. Uma chamada independência que somente leva somente ao ganho do mero sustento não é tão sedutora, não é tão ideal que se poderia esperar que uma mulher sacrificasse tudo por ela. Nossa tão altamente louvada independência não é, afinal, mais que um lento processo de embrutecimento e sufocamento da natureza feminina, do seu instinto amoroso e do seu instinto maternal.

No entanto, a posição da operária é muito mais natural e humana do que a sua aparentemente mais bem favorecida irmã nas vias profissionais mais cultas da vida: professoras, médicas, advogadas, engenheiras etc. que têm que manter uma aparência mais digna e respeitável enquanto que vida interior torna-se mais e mais vazia e morta.

A estreiteza da concepção existente da independência e emancipação da mulher; o terror do amor por um homem que não é seu igual socialmente; o medo de que o amor lhe roubará da sua liberdade e independência; o horror de que o amor ou a alegria da maternidade somente obstaculizará o seu futuro exercício da sua profissão - todos estes fatos juntos fazem da mulher emancipada moderna uma vestal forçada, diante de quem a vida, com suas grandes esclarecedoras tristezas e suas profundas e extasiantes alegrias, vão em frente sem tocá-la ou se apossar da sua alma.

A emancipação, compreendida pela maioria dos seus aderentes e expoentes, é estreita demais para permitir o amor sem fronteiras e o êxtase contido na profunda emoção da verdadeira mulher, namorada, mãe, em liberdade.

A tragédia da mulher que se sustenta ou é economicamente livre não repousa em excessiva, mas em escassa experiência. É verdade que, se ela superar a sua irmã das gerações passadas em conhecimento do mundo e natureza humana, mas é justamente devido a isso que ela sente profundamente a falta da essência vital, a qual sozinha pode enriquecer a alma humana e, sem a qual a maioria das mulheres tornaram-se meros autômatos profissionais.

Que tal estado de coisas estava para vir foi previsto por aqueles que perceberam que, no domínio da ética, ainda permaneceram muitas ruínas em decomposição do tempo da autoridade indisputada do homem; ruínas que ainda são consideradas úteis. E, o que é mais importante, um bom número das emancipadas são incapazes de ir adiante sem elas. Cada movimento que objetiva a destruição das instituições existentes e a sua substituição por algo de mais avançado, mais perfeito, tem seguidores que, em teoria se posicionam por idéias mais radicais mas, que, no entanto, em sua prática diária, são como o filisteu médio, afetando respeitabilidade e clamando pela boa opinião dos seus oponentes. Há, por exemplo, socialista e mesmo anarquistas que defendem a idéia de que a propriedade é um roubo e, no entanto, indignar-se-ão se qualquer pessoa lhes ficar devendo o valor de meia dúzia de alfinetes.

O mesmo filisteu pode ser encontrado no movimento pela emancipação da mulher. Jornalistas marrons e literatos água com açúcar pintaram retratos da mulher emancipada que fazem os cabelos do bom cidadão e da sua embotada companheira ficarem em pé. Cada membro do movimento pelos direitos da mulher foi retratado como uma George Sand em seu absoluto desprezo pela moralidade. Nada era sagrado para ela. Ela não tinha respeito algum pela relação ideal entre homem e mulher. Em resumo, a emancipação defendia apenas uma vida desregrada de luxúria e pecado, sem consideração para a sociedade, religião e moralidade. O expoentes dos direitos da mulher ficaram muito indignados com tal falsificação e, carentes de senso de humor, empregaram toda a sua energia para provar que não eram de modo algum tão maus como foram pintados, mas exatamente o oposto.

Está claro que, enquanto a mulher foi a escrava do homem, ela poderia não ser boa e pura, mas agora que ela era livre e independente, ela deveria provar como poderia ser boa e que sua influência teria um efeito purificador sobre todas as instituições da sociedade. Verdade que o movimento pelo direito das mulheres quebrou muitos dos velhos grilhões, mas também forjou novos. O grande movimento de verdadeira emancipação ainda não encontrou uma grande raça de mulheres que podem olhar a liberdade face a face. Sua visão estreita e puritana baniu o homem como um ser problemático de caráter duvidoso da sua vida emocional. O homem não deveria ser tolerado exceto talvez como o pai de uma criança, uma vez que uma criança não pode vir ao sem um pai. Felizmente, até as mais rígidas puritanas nunca foram tão fortes a ponto de matar o anseio inato pela maternidade. Mas a liberdade da mulher está intimamente associada com a liberdade do homem (...)

O homem médio com a sua auto-suficiência, seu ridículo ar superior de proteção em relação ao sexo feminino, é uma impossibilidade para a mulher (...) Igualmente impossível para ela é o homem que não consegue ver nela mais que a sua mentalidade e seu gênio e que fracassa em despertar sua natureza de mulher.

(...)

A salvação está na marcha enérgica em direção de um futuro mais claro e mais luminoso. Necessitamos crescer, sem obstrução, superando as velhas tradições e hábitos. O movimento pela emancipação das mulheres deu até agora apenas o primeiro passo naquela direção. (...) A história nos mostra que toda classe oprimida conquistou a liberdade dos seus senhores através do seus esforços. É necessário que a mulher aprenda esta lição, que ela adquira a consciência de que a sua liberdade alcançará tão longe quanto o seu poder de atingir a liberdade alcance (...)

A mesquinhez separa, amplitude une. Sejamos amplas e grandes. (...) uma verdadeira concepção doa relação entre os sexos não admitirá conquistador e conquistado, ela não conhece senão uma coisa: dar de si mesmo sem limites, de modo a encontrar-se mais rica, mais profunda, melhor. Somente isso pode preencher o vazio e transformar a tragédia da emancipação feminina em alegria, alegrias sem limite.


O Individuo Na Sociedade
http://sorocaba-libertaria.port5.com/oindividuo.htm

La hipocresía del puritanismo y otros ensayos
http://www.antorcha.net/biblioteca_virtual/politica/hipocresia/caratula_hipo.html

What Is There in Anarchy for Woman?
http://sunsite.berkeley.edu/Goldman/Samples/whatis.html

Anarchist Emma Goldman (part 1)
http://www.youtube.com/watch?v=wFoMfoQSCh8

Anarchist Emma Goldman (part 2)
http://www.youtube.com/watch?v=DJgUZbneG0c