quinta-feira, maio 24, 2007

Centro Social Okupado Autogestionado - Coimbra


Edifícios esquecidos,
edifícios abandonados,
edifícios que morrem lentamente.
Pessoas que correm
alienadas em frente da TV,
afogados nas suas casas.
Humanos-robot
Não-humanos!
Edifícios vivos cheios de sol e histórias antigas,
Edifícios que esperam silenciosos…
Pessoas que estão fartas da miséria.
Pessoas que querem viver diferente.

No dia 29 de Abril foi okupado em Coimbra um espaço abandonado outrora pertencente aos antigos hospitais da universidade. O objectivo é a criação de um espaço diferente, de debate e convivência num ambiente anti-capitalista e anti-autoritário.

Tendo como base a Liberdade, queremos a criação de relações mais humanas, mais humanizadas. Em oposição à vivência fria e estéril que o capitalismo e o estado nos tentam impor, queremos a livre cooperação entre indivíduos, queremos construir um lugar que seja uma ilha no meio do cinzentismo desta cidade, que seja um lugar de conhecimento fora do shopping académico. Um espaço popular autogestionado, organizado colectiva e horizontalmente através de assembleias, sem comités nem delegados, sem líderes nem liderados.

Existem milhares de edifícios desabitados, a ruir, à mercê da especulação imobiliária. Edifícios trancados e emparedados, só à espera da tua imaginação. O facto de escolhermos um edifício abandonado é para nós um imperativo, pois nunca poderíamos existir num espaço onde tivéssemos de pagar. Queremos uma existência sem a mediação do dinheiro e do lucro, um espaço de resistência e liberdade.

Não queremos que seja um espaço baseado nas relações sociais que nos são impostas, pelo contrário, esta é uma tentativa de reaproveitamento de um espaço para viver, para gritar, para amar, para destruir e esmagar tudo o que nos oprime.


JANTAR VEGANO ÁS QUARTAS, 20h00 (contribuição livre)

ASSEMBLEIA TODAS AS SEGUNDAS, 22h00

sexta-feira, abril 27, 2007

LISBOA 25 ABRIL 2007: manifestação antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo



Comunicado sobre a manifestação antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo

Com o intuito de protestar contra a crescente visibilidade da extrema-direita e a sua componente racista e xenófoba, contra a cada vez maior exploração capitalista, contra a precariedade social imposta pelo capitalismo, contra o crescente totalitarismo democrático, pela liberdade, solidariedade e dignidade humana, por um mundo sem fronteiras uma plataforma de grupos e indivíduos de várias tendências anti autoritárias, anarquistas, anti capitalistas e antifascistas convocou para o dia 25 de Abril pelas 18:00H na praça da figueira uma manifestação anti autoritária.

A manifestação reuniu cerca de 400 pessoas que percorreram o Rossio, a Rua do Carmo e a Rua Garrett até ao Largo de Camões num ambiente contestatário mas festivo e sem incidentes. Muitos transeuntes aplaudiram e aderiram à manifestação. Após um breve período em que a manifestação permaneceu no largo Camões esta continuou espontaneamente pela Rua Garrett em direcção ao Rossio.

A meio da Rua do Carmo, duas hordas de elementos do corpo de intervenção da PSP encurralaram os manifestantes na rua fechando as saídas e sem qualquer ordem ou aviso de dispersão começaram a agredir brutal e indiscriminadamente manifestantes, transeuntes e até mesmo turistas.Com isto a polícia não tentou dispersar ninguém, mas por outro lado quis bater, espancar e atacar os manifestantes. Pessoas que caíram no chão indefesas foram ainda agredidas por vários polícias à bastonada e ao pontapé. Aqueles que tentaram fugir foram perseguidas por toda a baixa e muitos transeuntes e lojistas somaram-se aos manifestantes no fundo da Rua do Carmo em protesto contra a brutalidade policial. As únicas agressões à polícia foram em legítima defesa, que é um direito ao qual não renunciamos.

Foram detidas doze pessoas de forma bastante violenta e é impossível contabilizar todos os feridos entre manifestantes e pessoas alheias ao protesto. Foi mobilizado um aparato policial desmedido (dezenas de carrinhas do corpo de intervenção da PSP com certamente mais de uma centena de elementos) que impôs o terror na baixa de Lisboa por várias horas
Um grupo de indivíduos que se queria juntar à manifestação e que tinha ficado para trás foi cercado e escoltado até ao cais do sodré (possivelmente pela sua cor de pele).

Os detidos foram levados para a esquadra da 1ª divisão da PSP na Rua Gomes Freire onde foi negada qualquer informação aos seus amigos e durante muito tempo foi impedida a entrada aos advogados. Houve uma tentativa de levar os detidos a constituírem-se arguidos sem a presença dos advogados o que é ilegal. Em solidariedade com os detidos cerca de 50 pessoas concentraram-se em frente à esquadra aguardando a sua transferência para os calabouços do comando da PSP de Lisboa. Mesmo em frente à esquadra a polícia continuou com o abuso de poder e expulsou as pessoas aos empurrões impedindo que estas pudessem continuar a demonstrar a sua solidariedade

O que tem vindo a ser noticiado nos variados órgãos de comunicação social está repleto de incoerências e desvios daquilo que realmente aconteceu na baixa de Lisboa. Nomeadamente, a confusão com outras manifestações, a aceitação da versão policial dos acontecimentos e a necessidade de caracterizar como ilegal uma característica natural das pessoas que é o ajuntamento e a manifestação, que a democracia diz defender. Num período em que foram muitos os ajuntamentos, manifestações, acções e encontros este era também um protesto de repúdio aos tempos que se vivem e aos ataques constantes do poder às pessoas.

Caricatamente é no dia 25 de Abril que a polícia defende cartazes de partidos fascistas e ataca manifestações antifascistas.

Num momento em que já se sabia que os cravos estão murchos todos estes acontecimentos servem para o reconfirmar.

Plataforma antiautoritária contra o fascismo e o capitalismo

»» mais informação:
http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=124179&cidade=1
http://www.youtube.com/watch?v=gJXuWvsUdr0

quarta-feira, março 21, 2007

A poesia está na rua

Poema


Mário Cesariny
(1923-2006)
Poema
  
Os pássaros de Londres
cantam todo o inverno
como se o frio fosse
o maior aconchego
nos parques arrancados
ao trânsito automóvel
nas ruas da neve negra
sob um céu sempre duro
os pássaros de Londres
falam de esplendor
com que se ergue o estio
e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
em jardins germinando
sob mantos de gelo
como se gelo fora
o linho mais bordado
ou em casas como aquela
onde Rimbaud comeu
e dormiu e estendeu
a vida desesperada
estreita faixa amarela
espécie de paralela
entre o tudo e o nada
os pássaros de Londres
quando termina o dia
e o sol consegue um pouco
abraçar a cidade
à luz razante e forte
que dura dois minutos
nas árvores que surgem
subitamente imensas
no ouro verde e negro
que é sua densidade
ou nos muros sem fim
dos bairros deserdados
onde não sabes não
se vida rogo amor
algum dia erguerão
do pavimento cínzeo
algum claro limite
os pássaros de Londres
cumprem o seu dever
de cidadãos britânicos
que nunca nunca viram
os céus mediterrânicos

La Chanson du Mal-Aimé



Guillaume Apollinaire

(1898 - 1918)


La Chanson du Mal-Aimé

A Paul Léautaud


Et je chantais cette romance

En 1903 sans savoir

Que mon amour à la semblance

Du beau Phénix s'il meurt un soir

Le matin voit sa renaissance


Un soir de demi-brume à Londres

Un voyou qui ressemblait à

Mon amour vint à ma rencontre

Et le regard qu'il me jeta

Me fit baisser les yeux de honte


Je suivis ce mauvais garçon

Qui sifflotait mains dans les poches

Nous semblions entre les maisons

Onde ouverte de la Mer Rouge

Lui les Hébreux moi Pharaon


Oue tombent ces vagues de briques

Si tu ne fus pas bien aimée

Je suis le souverain d'Égypte

Sa sœur-épouse son armée

Si tu n'es pas l'amour unique


Au tournant d'une rue brûlant

De tous les feux de ses façades

Plaies du brouillard sanguinolent

Où se lamentaient les façades

Une femme lui ressemblant


C'était son regard d'inhumaine

La cicatrice à son cou nu

Sortit saoule d'une taverne

Au moment où je reconnus

La fausseté de l'amour même


Lorsqu'il fut de retour enfin

Dans sa patrie le sage Ulysse

Son vieux chien de lui se souvint

Près d'un tapis de haute lisse

Sa femme attendait qu'il revînt


L'époux royal de Sacontale

Las de vaincre se réjouit

Quand il la retrouva plus pâle

D'attente et d'amour yeux pâlis

Caressant sa gazelle mâle


J'ai pensé à ces rois heureux

Lorsque le faux amour et celle

Dont je suis encore amoureux

Heurtant leurs ombres infidèles

Me rendirent si malheureux


Regrets sur quoi l'enfer se fonde

Qu'un ciel d'oubli s'ouvre à mes vœux

Pour son baiser les rois du monde

Seraient morts les pauvres fameux

Pour elle eussent vendu leur ombre


J'ai hiverné dans mon passé

Revienne le soleil de Pâques

Pour chauffer un cœur plus glacé

Que les quarante de Sébaste

Moins que ma vie martyrisés


Mon beau navire ô ma mémoire

Avons-nous assez navigué

Dans une onde mauvaise à boire

Avons-nous assez divagué

De la belle aube au triste soir


Adieu faux amour confondu

Avec la femme qui s'éloigne

Avec celle que j'ai perdue

L'année dernière en Allemagne

Et que je ne reverrai plus


Voie lactée ô sœur lumineuse

Des blancs ruisseaux de Chanaan

Et des corps blancs des amoureuses

Nageurs morts suivrons-nous d'ahan

Ton cours vers d'autres nébuleuses


Je me souviens d'une autre année

C'était l'aube d'un jour d'avril

J'ai chanté ma joie bien-aimée

Chanté l'amour à voix virile

Au moment d'amour de l'année


quinta-feira, março 08, 2007

A tragédia da emancipação da mulher

Excertos do ensaio “A tragédia da emancipação da mulher”, editado originalmente como parte do livro “Anarquismo e outros ensaios” de Emma Goldman

Começo com uma admissão: independentemente de todas as teorias econômicas e políticas, que tratam das diferenças fundamentais entre os vários grupos no interior da raça humana, independentemente das distinções de classe e de raça, independentemente de todas as linhas divisórias artificiais entre os direitos da mulher e do homem, sustento que há um ponto onde estas diferenças podem encontrar-se e crescer em um todo perfeito.

Isto não quer dizer que proponho um tratado de paz. O antagonismo social geral que se apoderou de toda a nossa vida social hoje,fez surgir através da força de interesses opostos e contraditórios, cairá em pedaços quando a reorganização da nossa vida social, baseada em princípios de justiça econômica, tiverem se tornado uma realidade.

Paz ou harmonia entre os sexos e os indivíduos não depende necessariamente em uma equalização de seres humanos, nem apela pela eliminação de traços e peculiaridades individuais. O problema que nos confronta hoje e o qual o futuro mais próximo deverá resolver, é o de como sermos nós mesmos e, ainda assim, em unicidade com os outros, sentir profundamente com todos os seres humanos e ainda manter nossas próprias qualidades características. Esta parece-me ser a base sobre a qual a massa e o indivíduo, o verdadeiro democrata e a verdadeira individualidade, homem e mulher, podem encontrar-se sem antagonismo e oposição. O lema não deveria ser: "perdoem uns aos outros", mas, antes, "compreendam uns aos outros". A frase de Madame de Stäel, freqüentemente citada, "compreender tudo significa perdoar tudo", nunca me apeteceu particularmente, tem o odor do confessionário. Perdoar o seu semelhante implica na idéia de uma superioridade farisaica. Compreender o seu semelhante já é o suficiente. Esta admissão representa em parte o aspecto fundamental da minha concepção da emancipação da mulher e do seu efeito sobre todo o sexo.

A emancipação deveria tornar possível para a mulher ser humana em seu sentido mais verdadeiro. Tudo dentro dela que anseia por afirmação e atividade deveria atingir sua expressão mais completa; todas as barreiras artificiais deveriam ser quebradas e o caminho para uma maior liberdade deveria ser limpo de todo e qualquer traço de séculos de submissão e escravidão.

Este era o objetivo original do movimento pela emancipação da mulher. Mas os resultados alcançados até aqui isolaram a mulher e roubaram-na da fontes daquela felicidade que é tão essencial para ela. A emancipação meramente externa tornou a mulher moderna um ser artificial, que nos faz lembrar dos produtos da arboricultura francesa com suas árvores e arbustos exóticos: pirâmides, rodas e coroas; qualquer forma exceto aquela que seria alcançada pela expressão das suas qualidades interiores. Plantas tão artificialmente cultivadas do sexo feminino encontram em grande número, especialmente na chamada esfera intelectual da nossa vida.

Liberdade e igualdade para a mulher! Que esperanças e aspirações estas palavras despertaram quando primeiro proferidas por algumas das almas mais nobres e corajosas daqueles dias. O sol em toda a sua luz e glória deveria levantar-se sobre um mundo novo; neste mundo a mulher deveria ser livre para orientar o seu próprio destino - um objetivo seguramente merecedor de grande entusiasmo, coragem, perseverança e esforço incessante do tremendo exército de homens e mulheres pioneiros, que arriscaram tudo contra um mundo de preconceito e ignorância.

Minhas esperanças também se movem em direção àquele objetivo, mas sustento que a emancipação da mulher, tal como é interpretada e aplicada de modo prático hoje, fracassou em atingir este grande objetivo. Agora, a mulher está confrontada com a necessidade de emancipar-se da emancipação, se ela realmente deseja ser livre. Isto pode parecer um paradoxo, mas é, não obstante, somente muito verdadeiro.

O que ela obteve da emancipação? Sufrágio igual em alguns estados. Acaso isso purificou a nossa vida política, como muitos bem-intencionados advogados desta causa previam? Claro que não. Notemos, de passagem, que já é hora para que pessoas de bom senso parem de falar de corrupção na política em um tom de colégio interno. A corrupção na política nada tem a ver com a moral, ou com a frouxidão moral, de diversas personalidades políticas. Sua causa é integralmente material. A política é o reflexo do mundo industrial e dos negócios, cujos lemas são: "tomar é mais abençoado que dar", "compre barato e venda caro", "uma mão suja lava a outra". Não há qualquer esperança de que a mulher, com seu direito de voto vá nunca purificar a política.

A emancipação trouxe a igualdade econômica da mulher com o homem, isto é, ela pode escolher a sua própria profissão ou empreendimento, mas como seu treinamento físico passado e presente não a aparelhou com a força necessária para competir com o homem, ela é freqüentemente obrigado a exaurir toda a sua energia, gastar a sua vitalidade e forçar cada nervo de modo a alcançar o valor de mercado. Muito poucas já o conseguiram, pois é um fato que as professoras, médicas, advogadas, arquitetas e engenheiras não são confrontadas com a mesma confiança que os seus colegas do sexo masculino, nem recebem remuneração igual. E aquelas que alcançam esta qualidade sedutora o conseguem, em geral, às custas do seu bem-estar físico e mental. Quanto à grande massa de mulheres e meninas trabalhadoras, quanta independência pode ser conquistada se a estreiteza e a falta de liberdade do lar é trocada pela estreiteza da fábrica, da oficina, da loja ou do escritório? A isto soma-se que a carga de cuidar de um "lar doce lar" - frio, sombrio, desarrumado, pouco convidativo - depois de um dia de trabalho duro. Gloriosa independência! Não admira que centenas de meninas estão desejosas de aceitar a primeira oferta de casamento, cansadas da sua "independência" atrás de um balcão, à máquina de costura ou à máquina de escrever. Estão tão prontas a casar quanto as moças de classe média, que anseiam libertar-se do jugo da supremacia paterna. Uma chamada independência que somente leva somente ao ganho do mero sustento não é tão sedutora, não é tão ideal que se poderia esperar que uma mulher sacrificasse tudo por ela. Nossa tão altamente louvada independência não é, afinal, mais que um lento processo de embrutecimento e sufocamento da natureza feminina, do seu instinto amoroso e do seu instinto maternal.

No entanto, a posição da operária é muito mais natural e humana do que a sua aparentemente mais bem favorecida irmã nas vias profissionais mais cultas da vida: professoras, médicas, advogadas, engenheiras etc. que têm que manter uma aparência mais digna e respeitável enquanto que vida interior torna-se mais e mais vazia e morta.

A estreiteza da concepção existente da independência e emancipação da mulher; o terror do amor por um homem que não é seu igual socialmente; o medo de que o amor lhe roubará da sua liberdade e independência; o horror de que o amor ou a alegria da maternidade somente obstaculizará o seu futuro exercício da sua profissão - todos estes fatos juntos fazem da mulher emancipada moderna uma vestal forçada, diante de quem a vida, com suas grandes esclarecedoras tristezas e suas profundas e extasiantes alegrias, vão em frente sem tocá-la ou se apossar da sua alma.

A emancipação, compreendida pela maioria dos seus aderentes e expoentes, é estreita demais para permitir o amor sem fronteiras e o êxtase contido na profunda emoção da verdadeira mulher, namorada, mãe, em liberdade.

A tragédia da mulher que se sustenta ou é economicamente livre não repousa em excessiva, mas em escassa experiência. É verdade que, se ela superar a sua irmã das gerações passadas em conhecimento do mundo e natureza humana, mas é justamente devido a isso que ela sente profundamente a falta da essência vital, a qual sozinha pode enriquecer a alma humana e, sem a qual a maioria das mulheres tornaram-se meros autômatos profissionais.

Que tal estado de coisas estava para vir foi previsto por aqueles que perceberam que, no domínio da ética, ainda permaneceram muitas ruínas em decomposição do tempo da autoridade indisputada do homem; ruínas que ainda são consideradas úteis. E, o que é mais importante, um bom número das emancipadas são incapazes de ir adiante sem elas. Cada movimento que objetiva a destruição das instituições existentes e a sua substituição por algo de mais avançado, mais perfeito, tem seguidores que, em teoria se posicionam por idéias mais radicais mas, que, no entanto, em sua prática diária, são como o filisteu médio, afetando respeitabilidade e clamando pela boa opinião dos seus oponentes. Há, por exemplo, socialista e mesmo anarquistas que defendem a idéia de que a propriedade é um roubo e, no entanto, indignar-se-ão se qualquer pessoa lhes ficar devendo o valor de meia dúzia de alfinetes.

O mesmo filisteu pode ser encontrado no movimento pela emancipação da mulher. Jornalistas marrons e literatos água com açúcar pintaram retratos da mulher emancipada que fazem os cabelos do bom cidadão e da sua embotada companheira ficarem em pé. Cada membro do movimento pelos direitos da mulher foi retratado como uma George Sand em seu absoluto desprezo pela moralidade. Nada era sagrado para ela. Ela não tinha respeito algum pela relação ideal entre homem e mulher. Em resumo, a emancipação defendia apenas uma vida desregrada de luxúria e pecado, sem consideração para a sociedade, religião e moralidade. O expoentes dos direitos da mulher ficaram muito indignados com tal falsificação e, carentes de senso de humor, empregaram toda a sua energia para provar que não eram de modo algum tão maus como foram pintados, mas exatamente o oposto.

Está claro que, enquanto a mulher foi a escrava do homem, ela poderia não ser boa e pura, mas agora que ela era livre e independente, ela deveria provar como poderia ser boa e que sua influência teria um efeito purificador sobre todas as instituições da sociedade. Verdade que o movimento pelo direito das mulheres quebrou muitos dos velhos grilhões, mas também forjou novos. O grande movimento de verdadeira emancipação ainda não encontrou uma grande raça de mulheres que podem olhar a liberdade face a face. Sua visão estreita e puritana baniu o homem como um ser problemático de caráter duvidoso da sua vida emocional. O homem não deveria ser tolerado exceto talvez como o pai de uma criança, uma vez que uma criança não pode vir ao sem um pai. Felizmente, até as mais rígidas puritanas nunca foram tão fortes a ponto de matar o anseio inato pela maternidade. Mas a liberdade da mulher está intimamente associada com a liberdade do homem (...)

O homem médio com a sua auto-suficiência, seu ridículo ar superior de proteção em relação ao sexo feminino, é uma impossibilidade para a mulher (...) Igualmente impossível para ela é o homem que não consegue ver nela mais que a sua mentalidade e seu gênio e que fracassa em despertar sua natureza de mulher.

(...)

A salvação está na marcha enérgica em direção de um futuro mais claro e mais luminoso. Necessitamos crescer, sem obstrução, superando as velhas tradições e hábitos. O movimento pela emancipação das mulheres deu até agora apenas o primeiro passo naquela direção. (...) A história nos mostra que toda classe oprimida conquistou a liberdade dos seus senhores através do seus esforços. É necessário que a mulher aprenda esta lição, que ela adquira a consciência de que a sua liberdade alcançará tão longe quanto o seu poder de atingir a liberdade alcance (...)

A mesquinhez separa, amplitude une. Sejamos amplas e grandes. (...) uma verdadeira concepção doa relação entre os sexos não admitirá conquistador e conquistado, ela não conhece senão uma coisa: dar de si mesmo sem limites, de modo a encontrar-se mais rica, mais profunda, melhor. Somente isso pode preencher o vazio e transformar a tragédia da emancipação feminina em alegria, alegrias sem limite.


O Individuo Na Sociedade
http://sorocaba-libertaria.port5.com/oindividuo.htm

La hipocresía del puritanismo y otros ensayos
http://www.antorcha.net/biblioteca_virtual/politica/hipocresia/caratula_hipo.html

What Is There in Anarchy for Woman?
http://sunsite.berkeley.edu/Goldman/Samples/whatis.html

Anarchist Emma Goldman (part 1)
http://www.youtube.com/watch?v=wFoMfoQSCh8

Anarchist Emma Goldman (part 2)
http://www.youtube.com/watch?v=DJgUZbneG0c

quarta-feira, março 07, 2007

Shell's Wild Lie



A Shell uma das maiores companhias petroliferas do mundo é acusada de atentados ambientais um pouco por todo o mundo, está associada á repressão do povo Ogoni na Nigéria e á execução de Ken Saro-Wiva .

A Shell é o novo mecenas do Prémio "Fotógrafo do Ano em Vida Selvagem" (Natural History Museum’s Wildlife Photographer of the Year).

Diversas organizações de Inglaterra e do resto do mundo protestaram contra esse facto, tendo surgido uma campanha e contra-exposição, designada “Shell's Wild Lie”, para onde todos os que desejem participar podem enviar os seus protestos e/ou trabalhos fotográficos (email).

mais info:
>> Rising Tide
>> Shell Oiled Wild Life
>> Art Not Oil
>> Shell to Sea

terça-feira, março 06, 2007

Rageh Omaar

Rageh Omaar who reported on the fall of Baghdad for the BBC has warned there’s no way Britain and the US can leave Iraq with their honour intact. And he said that George Bush and Tony Blair were Osama Bin Laden's idea of "perfect enemies" because they re-inforce everything he says about the West. The Somali born reporter was speaking at Warwick University yesterday where he drew an audience of around 200 to hear a discussion chaired by Stirrer editor Adrian Goldberg. Omaar's most recent book "Half Of Me" deals with the realities of being a British Muslim post 9/11, and it's an excellent read. But most of those present wanted to quiz him on the future of the country which he saw "liberated" by Allied Forces. As he pointed out, the end result has been the largest migration in the Middle East since the state of Israel was created in 1948, leading to a brain drain that will hamper Iraq for generations to come. After the talk, he gave an excluive no holds-barred interview to The Stirrer which you can view here.

Rageh Omaar talks to The Stirrer

Rageh Inside Iran (2007) Rageh Omaar's travels in the most talked about yet least understood city in the world - Tehran.

segunda-feira, março 05, 2007

Ungdomshuset (casa da juventude)


Two demonstrations from Vesterbro and Christianshavn gathered in front of the City Hall to listen to speeches and music. A speaker from Ungdomshuset said : “ Now it is NOT the time for quarrel. We must respect each other and be good towards each other – everybody can join the fight in the way they like. Make a civic restaurant so that people can meat and get creative ideas, take part in the reclaim-the-streets on Tuesday 16 o’clock, support the group which helps the arrested and imprisoned comrades – use all your imagination and creativity and take part in the Thursday demonstrations, which will take place each Thursday at 17 o-clock except 8. March, The International Women’s Day, where it take place at 18 o’clock instead” , said the speaker from Ungdomshuset.

He got the biggest applause when he called for solidarity with the hundreds of arrested and imprisoned comrades.

Three good musicians played John Lennons “A working class hero” – and then the demo draw on direction Nørrebro. Slogans as “ Police, control create more violence!” were heard in the streets and here and there banners hangs out of apartments to express citizen support to Ungdomshuset. Around 18.30 the demo ended in a party in the park of Nørrebro. Small groups moved towards inner Nørrebro.

The fight continues!

http://www.indymedia.org.uk/en/2007/03/364215.html

more infos:

http://www.ungdomshuset.dk/en.php3?id_rubrique=4

http://indymedia.dk/newswire.php

http://www.lahaine.org/index.php?blog=3&p=20910


Nota informativa complementar:

Esta casa, antiga casa do povo de um bairro de Copenhaga e propriedade do município, era utilizada desde 1982, há 25 anos portanto, como centro/residência de jovens alternativos, a alienação do edifício pela câmara local a favor de um outro grupo, uma seita fundamentalista cristã, e a recente decisão de um tribunal a validar a desocupação veio despoletar estes confrontos.

Uma jovem portuguesa, a Susana, que se encontrava a passar uns dias em Copenhaga, foi envolvida nos confrontos de Dezembro tendo ficado detida durante dois meses até ver um tribunal decretar a sua condenação a dois meses de prisão, que entretanto havia cumprido, e posterior expulsão da Dinamarca com proibição de entrada durante cinco anos.

Felizmente, segundo informações a que tive acesso, a Susana está bem e regressou a Portugal durante o fim de semana que passou.

we will not be silenced


Foi referenciado num dos meus primeiros posts um vídeo do Dj Paul Edge recentemente foi colocado online o segundo vídeo igualmente designado we will not be silenced.
Noutro registo um vídeo do grupo The Bleach Boys pode ser visto aqui.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

outros natais: ano novo vida nova não é para todos!!!

Abandonados no deserto:
Milhares de refugiados presos e deportados em Marrocos


Mais de 250 emigrantes da África sub-sahariana foram detidos pelas autoridades marroquinas em rusgas que ocorreram em diferentes locais da cidade de Rabat no dia 23 de Dezembro de 2006. Entre os detidos estavam mulheres, crianças e refugiados. Seis autocarros escoltados pelo exército transportaram-nos para Oujda na fronteira argelina. Cerca das 11 horas da noite, os autocarros atravessaram a fronteira em três pontos distintos e os emigrantes foram deixados no meio de uma terra de ninguém. [veja abaixo os pormenores]. Barragens da Policia Especial impediram o auxílio a partir de Oujda e os telemóveis não funcionavam ali logo os emigrantes não puderam ser contactados. Existem receios que estas detenções sejam apenas o começo de uma campanha de deportação em massa para a Argélia, ou mesmo para o deserto semelhante à que aconteceu em Setembro-Outubro de 2005.

No dia de Natal, mais dois autocarros chegaram a Oujda, à esquadra de policia, com mais emigrantes sub-saharianos procedentes de Nador (outra cidade de Marrocos). Isto apenas confirma que esta operação é de âmbito nacional e foi pré-planeada pelas autoridades para decorrer durante um período em que a maioria dos activistas dos direitos humanos se encontram em férias.

Segundo os relatórios da Attac Marrocos e de outras organizações, mais de 150 emigrantes, muitos deles feridos, tentaram regressar a Oujda na noite de 24 de Dezembro, entre 100 a 150 ficaram "de fora ao frio e à chuva, sem comida". Quando detidos, não lhes foi permitido levar os seus pertences e alguns tiveram que partir só com as roupas interiores. Entre eles estariam 7 ou 8 crianças (4 abaixo dos 2 anos) e duas mulheres grávidas de 5 e 6 meses assim como pessoas doentes a quem foi recusada assistência médica. Foi mencionado que pelo menos 52 destes emigrantes tinham documentos da Comissão para os Refugiados das Nações Unidas (UNHCR), e outros 17 estavam em vias de os obter. Entre eles contava-se o caso de um homem de negócios senegalês que vivia em Marrocos legalmente desde 2004.

Varias organizações humanitárias, incluindo a Attac, Associação Beni Snassen para a Cultura, o Desenvolvimento e a Solidariedade, Médicos sem Fronteiras, CEI e AMDH, providenciaram os primeiros socorros, assim como 100 mantas e alguma comida quente. Não sem dificuldades.

A 24 de Dezembro, 5 emigrantes ficaram detidos na esquadra de polícia de Oujda, sem que fosse dada qualquer explicação razoável do porquê destas detenções. Existem também relatos sobre dois emigrantes congoleses, Nsiku Yulu e Muntu Dimuru, que ficaram sob a custódia da polícia da Argélia. Cerca das 9:30 da noite deste dia, 35 pessoas foram 'localizadas' e mais duas detidas.

A 30 de Dezembro, uma nova caravana de autocarros chegou a Layoun, na estrada que liga a Oujda, e 140 pessoas foram deportadas para a fronteira argelina. Estavam presentes activistas dos direitos humanos e da Attac que tentaram trazer as pessoas de volta a Rabat.

Outro relato impressionante dá conta de 4 mulheres, raptadas e violadas por homens marroquinos ou argelinos, que foram agredidas pela policia marroquina e pela guarda fronteiriça da Argélia.

Depois de deportada no deserto grávida é violada e perde o bebé

Os relatórios sobre a terrível tragédia dos 240 refugiados que foram presos e deportados pelas autoridades marroquinas a 23 de Dezembro de 2006 começam a chegar até nós.

Segundo relatos da Attac, uma mulher Congolesa grávida de 5 meses foi violada a 2 de Janeiro. Foi hospitalizada mas acabou por perder o seu bebé. Desde a violação parece estar em estado de choque e recusa falar.

Segundo Afrik.com, citando Paulin Kuamzambi, vice-presidente do Colectivo de Refugiados em Marrocos, quarto mulheres foram violadas no caminho de regresso a Oujda (Marrocos). Não há mais pormenores sobre as circunstâncias em que ocorreram estas violações excepto que em três casos os violadores eram marroquinos enquanto no quarto caso os violadores eram de nacionalidade argelina.

info: http://www.indymedia.org/pt/2007/01/877758.shtml